27.7.08

Valência, o tiro de partida... com pólvora seca

Passava pouco das seis da tarde de uma sexta-feira de fazer derreter alcatrão e eu nem queria acreditar no que estava à frente dos meus olhos: tinha acabado de chegar ao novo circuito urbano de Valência e ainda decorriam trabalhos de conclusão das obras. Parecia que estava em Portugal. Às 18h já deviam ter andado duas categorias de carros de GT e uma de carros de Fórmula 3. Pois os GTA tinham acabado de ir para a pista e nem sequer podiam andar depressa. «O treino está em ‘full-course yellow’, porque não está tudo pronto», disse-me o Manuel Gião, para explicar o motivo de estarmos a assistir a uma procissão de carros Ferrari e Porsche, em vez de uma sessão de treinos digna desse nome.

Durante a noite de sexta para sábado os trabalhos prosseguiram de forma ininterrupta: gruas colocaram as últimas redes, máquinas apertaram os blocos de cimento que faltavam, algumas dezenas de pessoas correram a pista de uma ponta à outra a colocar os correctores no chão e a verdade é que... não ficou tudo feito. Sim, as corridas fizeram-se e até correram muito bem, como se pode ver pelas imagens que captámos em vídeo. O circuito é, segundo os pilotos portugueses Pedro Couceiro e Manuel Gião, muito bonito, largo, rápido e com vários pontos de ultrapassagem.

Mas ainda não tem placas a indicar as distâncias para as curvas; ainda faltam barreiras de deformação (de pneus, portanto) mais espessas em algumas zonas; o paddock, que usa as instalações das equipas da Taça América em Vela (e que instalações!), ainda tem buracos na calçada, valas mal cobertas para passagem de cabos eléctricos, bocados de parece por cimentar e pintar e o próprio pitlane ainda tem uma enorme superfície de pó de cimento por limpar; a entrada da recta da meta tem uma grande caixa de areia que é preciso tapar; há casas que ainda estão a ser demolidas para depois se terraplanar os terrenos e construir parques; há bancadas por montar; mas o mais grave foi mesmo o episódio das juntas de dilatação da ponte propositadamente construída para este circuito, que cederam tanto em distância e altura que os monolugares de Fórmula 3... nem sequer passavam, porque batiam por baixo.

Falta menos de um mês para se correr o Grande Prémio da Europa de Fórmula 1 neste mesmo circuito. Bernie Ecclestone gosta muito do dinheiro que lhe pagam para garantir estas novas corridas do calendário, mas não costuma digerir muito bem os fracassos. Para a organização de Jorge Martinez Aspar, é bom que esteja tudo arrumadinho, limpo e a brilhar para receber os convidados de honra.