Os primeiros dois minutos ao volante da Carver One são, sem dúvida, um embaraço dos grandes. Acho que ninguém que habitualmente guie um automóvel está preparado para sair de um estacionamento «deitado», por isso talvez tivesse sido sensato ter dado atenção quando me disseram «é melhor andares devagarinho até te habituares». Na realidade, são precisos alguns minutos de habituação: os primeiros dois para parar de ter vergonha, porque a cada lomba ou ressalto o cockpit da Carver abanica-se mais do que a Shakira, os dois seguintes para voltar a respirar a uma cadência normal e, finalmente, mais quatro ou cinco minutos para perceber que, afinal, até é fácil manejar este triciclo que tem um volante mas comporta-se como uma moto.
Há um grande braço basculante que se encarrega de embalar a Carver One de um lado para o outro. Quando o faz, o que se ouve é sensivelmente a sonoplastia de um filme de ficção científica misturada com o ruído dos hidráulicos de um Airbus. Não fosse o motor do Daihatsu Copen a querer gritar mais alto e a banda sonora seria, a todos os títulos, inédita. A electrónica é que manda e, em traços gerais, o ângulo a que se bascula é ditado pelo ângulo do volante e pela a velocidade. Exemplo: a 12 km/h (não se riam, ainda estava dentro dos primeiros 10 minutos...), com um ângulo de volante de, digamos, do meio-dia para as duas da tarde, a Carver inclina-se apenas o suficiente para nos dizer «sim, isto inclina-se mesmo». Acima dos 55 km/h, o mesmo ângulo de volante é insuficiente para fazer uma curva - é preciso confiar no engenheiro que me disse «esquece tudo o resto e atira-te lá para dentro».
Na verdade, o volante não transmite feeling de condução e isso acaba por ser mesmo o mais estranho. É meramente um instrumento de orientação que, a andar depressa, tem que ajudar a gerir uma carroçaria que se inclina a 40º, uma roda da frente que também está a convergir para dentro e duas rodas de trás que, também elas, estão a direccionar a Carver para dentro. A dada altura chega-se à conclusão que se está a virar demasiado e a tendência é... contrabrecar. Big mistake! Se a Carver se deita mais do que é preciso, a única coisa a fazer para contrariar é tirar um pouco de ângulo ao volante em se necessário, aliviar um pouco o acelerador. A contrabrecagem tem como consequência mais provável uma sucessão de abanões idênticos aos de um Cacilheiro em dia de tormenta no Tejo.
Passada a fase da vergonha e instalada a diversão, resta desfrutar do inusitado que é fazer curvas completamente deitado sem tocar com o joelho no chão ou acelerar à bruta sem fazer «cavalinho». O fotógrafo, que anda de Harley Davidson todos os dias, achou um piadão às capacidades basculantes da moto, mas não se divertiu tanto com os solavancos a baixa velocidade ou com os comandos mais rijos que um bacalhau ao sol. E se ele diz que isto é o que há de mais parecido com andar de moto, eu acredito. Só que custa 40 mil euros e é claramente um brinquedo para adultos endinheirados.