Os carros do futuro e o problema da responsabilidade do condutor
A Associated Press noticia hoje (via DriversDrive) que os cientistas prevêm que os carros inteiramente conduzidos por robots possam ser comuns no ambiente urbano já em 2030, daqui a pouco mais de 20 anos.
Na verdade, a previsão até parece pouco arrojada, se considerarmos que essa tecnologia já existe, já está a ser testada por vários fabricantes e já foi objecto de teste na última edição da Automagazine, a convite da GM.
Claro que a generalização de uma tecnologia pode ser bastante mais demorada que o seu desenvolvimento, sobretudo quando está em causa algo tão revolucionário como carros que se conduzem a si próprios. Por isso, a tecnologia que permite aos automóveis evitarem chocar uns com os outros vai certamente refinar-se nos próximos anos, mas o que verdadeiramente vai estar sobre a mesa são as questões sociais e políticas que essa tecnologia suscita.
Os responsáveis pelo projecto Vehicle-to-vehicle da GM, por exemplo, assumem como sua política não isentar o condutor da responsabilidade pela condução. Por isso é que o sistema deste fabricante integra sobretudo avisos e muito poucas acções tendentes a evitar o acidente.
Percebe-se porquê. Um fabricante que assuma a possibilidade de evitar determinados acidentes independentemente da vontade do condutor, pode ficar à mercê da imputação de responsabilidades quando esse acidente efectivamente acontece. Ou seja, cria-se aqui uma zona difusa de responsabilidades que muito provavelmente vai "cair em cima" dos construtores.
Mas penso que, mais cedo ou mais tarde, à medida que a tecnologia for ficando cada vez mais fiável, essa questão vai voltar a colocar-se. Porque se é verdade que um fabricante não pode assumir a responsabilidade por um veículo que um condutor está a controlar, não é menos verdade que não faz sentido ficarmos de braços cruzados perante acidentes que podiam ser evitados com a tecnologia de que dispomos. Os carros da GM que testámos em Espanha, por exemplo, podiam facilmente ser impedidos de entrar em sentido contrário numa auto-estrada ou passar um sinal vermelho, mesmo que o condutor o quisesse fazer. Bastava para isso que o software o programasse antecipadamente. Não seria isso legitimo e até desejável?
Bem sei que a questão é um bocado "filosófica", mas este é certamente o tipo de dúvidas com que seremos confrontados no futuro, à medida que os carros "automáticos" começarem a aparecer.