O ano de 2007 ficará para sempre marcado como o primeiro da nova era da Fórmula 1. Não que a Fórmula 1 em si tenha mudado grande coisa, embora agora saibamos que já só corre um alemão chamado Schumacher e que todos os pilotos são obrigados a usar, pelo menos uma vez durante a corrida, quatro pneus que não lhes servem para nada. Esta «nova era» da Fórmula 1 a que me refiro nasce do facto desta ser a primeira temporada em que os portugueses que querem ver as corridas (e os treinos) têm que pagar.
A história resume-se rapidamente e é do domínio público: a Sport TV quis comprar os direitos de transmissão da Fórmula 1 e a RTP, no momento da renegociação, achou mais prudente não fazer tão grande esforço quanto isso para a manter no serviço público, até porque evita ter que andar sempre a mexer na programação do fim-de-semana.
Não é novidade - há uns anos, Bernie Ecclestone decidiu entregar os direitos de transmissão da Fórmula 1 à «ITV», retirando os mesmos direitos à BBC e ao canal Eurosport (que transmitia para toda a Europa, incluindo o Reino Unido...). A «ITV» chegou a pensar implementar o sistema pay-per-view, mas uma audiência de 45 milhões de espectadores chega-lhe para, actualmente, mais que justificar esse investimento. A Sport TV, nos dias bons, chega a 600 mil espectadores, e é se tiver um Benfica-Sporting na carteira.
Agora, ver corridas de Fórmula 1 pela televisão custa uma assinatura do operador de TV por cabo mais a mensalidade do canal de desporto. Ou, no mínimo, custa uma assinatura do operador de TV por cabo mais a mensalidade de um pacote «fantástico», o qual inclui um canal chamado «RTL» e permite ver (e ouvir) corridas comentadas por dois alemães e pelo Niki Lauda, incluindo também vários minutos de publicidade à Warsteiner, D2-Mobile, Deutsche Post e afins. Mais em conta talvez seja a hipótese de comprar uma antena parabólica, apontá-la ao satélite certo e sintonizar a inglesa «ITV», que transmite a corrida em sinal aberto e comentada em inglês, por um grupo de pessoas que até percebe do assunto. Mais barato que isto, só vendo pela RTP e pagando a taxa (sim, ainda se paga, embora quase ninguém perceba que essa taxa vem cobrada na factura da electricidade).
A Fórmula 1 na Sport TV nem está nada mal (temos transmissão desde os treinos livres!) e ter o Tiago Monteiro a fazer comentários é um detalhe interessante, porque se há alguém que sabe o que é andar a 290 km/h num destes monolugares actuais é ele.
Mas agora pergunto: a Sport TV já teve os direitos de transmissão do Mundial de Futebol e, no entanto, os jogos da selecção deram sempre em sinal aberto. Se o Tiago Monteiro tivesse ficado na Spyker e estivesse a correr, poderíamos alegar «interesse nacional» para ver as corridas?